Trabalho

Qual deve ser o equilíbrio de tempo para o trabalho, lazer e descanso?

O Direito anglo-saxónico, na sua maneira muito especial de legislar – pelo costume – considera que o dia deve ser dividido do seguinte modo: “eight hours of work, eight hours of pleasure, eight hours of rest”.

Mas, como coadunar este conceito numa estrutura que apenas nos diz “não tem horário, apenas tem de fazer o trabalho que lhe delegam”?

Mais grave é que nestas estruturas nem dez, onze ou doze horas diárias chegariam para aquilo que nos é atribuído, já para não falar de tudo aquilo que se desse abertura seria atribuído.

E, como conciliar com uma vida familiar? E com uma vida social?

A verdade é que a resposta, ainda que seja desagradável, é: não se concilia.

Assim, vive meio mundo constantemente alheado do essencial – a mulher, os filhos, os pais, os avós, já para não falar de todos os problemas sociais que todos conhecemos e, simplesmente, ignoramos – para lutar, e aqui é que surge o caricato da situação, para poder ter condições, ou dar melhores condições de vida aqueles que são essenciais.

Vive-se num constante malabarismo entre o trabalho, família e amigos.

Como resolver este problema? Sinceramente, não posso ter certeza, mas ensaio aqui a minha proposta de solução.

Será que a solução é adoptar uma postura de largar tudo para seguir um ideal? As religiões, nomeadamente a católica (posso falar com conhecimento de causa), numa atitude um tanto fanática, apelam aos seus crentes para deixarem tudo para seguir o seu Ideal.

É minha opinião, que vale o que vale, que uma postura como esta, para uma pessoa que vive em sociedade, em família, ou que trabalha, contribui de algum modo para o bem comum, é egoísta, e, em certa medida, atinge o fanatismo.

Uma pessoa só pode ser um bom crente quando conseguir um total equilíbrio em todas as “personagens” e papeis que desempenha na sociedade. Eu enquanto pai, irmão, filho, neto, profissional, crente, e cidadão, devo ser bom em qualquer uma destas personagens, procurando conciliar tudo da melhor maneira, à luz de bons princípios e valores.

Eu não pretendo com isto afirmar que as religiões são perniciosas. Acredito que uma pessoa que não seja crente é infinitamente mais “pobre” que uma pessoa crente, porque certamente negligencia uma importante parte sensorial da sua personalidade.

Contudo, o mais importante é não deixar de ter em mente que a fronteira que existe entre uma espiritualidade sã e o fanatismo é muito ténue.

Com esta asserção regresso ao ponto de partida, na vida e no trabalho a fronteira entre um justo equilíbrio e o despropositado ou o exagero é muito fácil de transpor.

Assim, devemos trabalhar muito? Sim, claro que sim. De preferência com disciplina e dedicação em grandes quantidades. No entanto, tal não impede que se perca de vista o ideal que tão bem está traduzido naquela máxima inglesa que transcrevemos supra.

A interpretação deve ser feita no sentido que só poderemos praticar e usufruir bem de qualquer uma das três actividades se praticarmos bem todas bem. Porque só uma pessoa que viva e conviva com a sua família, mas também, que tenha tempo para descansar, é que trabalha no pleno das suas capacidades. Por outro lado, só uma pessoa que trabalhe com rigor e disciplina, poderá gozar de um merecido descanso, porque de outro modo não se tratará de descanso mas sim de um longo período de tédio.

2 comentários:

Carla Zenóglio de Oliveira disse...

Gostei muito deste "post".De facto na vida nada pode ser mais saudável que o equilibrio.O dosear de tudo na nossa vida em quantidades equilibradas, em busca sempre da aplicação dos nossos príncipios que são vitais na nossa existência é de facto o melhor caminho!!!Escreve sempre, pois gosto muito de "te" lêr,e humildemente dar o meu contributo a esta Ágora.

Francisco Melo disse...

Finalmente um pensador polemizante, mas com quem dá gosto trocar ideias, a usar a tribuna do blog para dizer de sua justiça. Caríssimo Tomás, seja bem-vindo, e cá o esperamos para essas causas nobres! Abraço