Sabor Amargo

Na vida surgem oportunidades que as pessoas vão tentando aproveitar.

Surgiu-me uma grande oportunidade, mas a concretização da mesma precisa de financiamento.

Assim, apesar de pertencer a uma minoria privilegiada (tenho casa, comida e tive uma excelente formação – não devo representar 1% da população humana), devo dizer que não pertenço à minoria capitalista do nosso país.

Sem outra alternativa, dirigi-me a diversas instituições bancárias em busca de uma solução para alcançar o meu almejado sonho.

Confesso que sabia que os juros cobrados pelas instituições bancárias são escandalosos, mas como a maioria da população, vivo clama e pacificamente anestesiado pelo parco conforto que a minha existência vai tendo.

Tudo isto para partilhar com os meus poucos leitores que me revoltou, profundamente, e uma vez mais, que em todas aquelas instituições em que entrei, uns pobres funcionários, como que estupidificados pela rotina dos mesmos dizeres, me comunicassem, com a maior naturalidade do mundo, e sempre com um ar sério e profissional, que as instituições que representavam me concederiam crédito se eu pagasse, pelo menos, três vezes mais do que aquilo que me concederiam.

Não me interpretem mal, não defendo a abolição da economia livre de mercado, mas o capitalismo selvático não pode ser acariciado, protegido e incentivado pela indiferença de todos nós. Recuso ficar indeferente e manifesto o meu inconformismo.

Não incito a que destruam as instituições bancárias ou a propriedade privada, longe de mim, mas penso que se a aquelas tivessem os seus lucros próximos da maioria dos negócios (cerca de 10%), por um lado seria justo e normal, e por outro seria possível à maioria das pessoas viverem um pouco melhor.